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Estapafúrdios do Quotidiano

Estou sim? É do Hospital? Daqui é o Covid-19...

Avatar do autor estapafurdiosdoquotidiano, 03.12.20

É de conhecimento público o que se passa no mundo inteiro. O Coronavírus veio assolar as nossas vidas. Milhões de pessoas infectadas, milhares de pessoas a falecerem diariamente por todo o mundo, levando a medidas agressivas por parte dos governos de cada país. Mesmo com tanto confinamento e restrições, a pandemia parece não querer abrandar de forma alguma. Os hospitais estão no seu limite e este horror parece não querer terminar. O Estapafúrdios conseguiu chegar à fala com um médico que está na linha da frente, que nos explicou como é viver diariamente no meio deste inferno.


Estapafúrdios: "Ora bom dia, shôr doutor! Obrigado por disponibilizar um pouco do seu já curto tempo para conceder esta entrevista."

 

Doutor: "Bom dia, bom dia... Ah, não tem problema. Tempo é coisa que não me falta. Eh, eh!"

 

E: "Ai sim? Hum... Ok... Bom, diga-me, shôr doutor, como têm sido estes longos e loucos dias no hospital?"

 

D: "Olhe tem sido bué fixe! Sempre gostei muito de séries de televisão onde as cenas eram passadas em hospitais. E agora poder passar dias inteiros em hospitais tem sido muito fixe, mesmo."

 

E: "Bom, essa não era de todo a resposta que estaríamos à espera, mas tudo bem... Como tem sido lidar com o Covid-19?"

 

D: "Ui. Bastante fácil. Não tem mesmo nada que saber. Na entrevista que tive com a senhora Graça Freitas fiquei logo com a ideia que isto de lidar com o Covid-19 iria ser mesmo muito fácil. Na verdade, é muito mais fácil do que passar um dia inteiro a dar naifadas em lombos."

 

E: "Ah, o meu amigo é cirurgião?!"

 

D: "Hum... Há quem lhe chame isso. Porque dar cortes em carne tem uma certa ciência. Não é chegar ali e zás!, dar uma naifada no lombo e está feito! Para se ser talhante é necessário nascer com esse dom. Não é assim à toa..."

 

E: "Talhante?! O shôr doutor era talhante?!"

 

D: "Era, sim senhor. Mas devido às restrições, o talho do shôr Martins teve de fechar e eu vim parar ao olho da rua. Mas como estavam a precisar de médicos nos hospitais para ajudar no combate ao bicho, decidi candidatar-me e olhe, cá estou eu!"

 

E: "Mas... o senhor era talhante! Como é que pode estar a exercer as funções de médico num hospital, ainda por cima numa altura destas? Como é que o aceitaram?!"

 

D: "Oh amigo... Eu tentei a minha sorte e safei-me! E, na verdade, isto do Covid-19 não tem nada que saber. Na entrevista com a shôra Graça Freitas, fiquei imediatamente a saber que estava super preparado para exercer estas funções. O primeiro requisito era saber lidar com o stress. Ora, como deve calcular, trabalhar num talho consegue ser muito stressante, especialmente quando temos de atender as idosas picuinhas com o tipo de carne que pretendem. O segundo requisito tem a ver com a escolha da carne. Ou seja, carne podre é imediatamente para o lixo. No hospital é igual. Velhotes com Covid-19 é para descartar logo, foi o que me disse a shôra Graça. Depois o resto é uma questão de nos adaptarmos a cada situação..."

 

E: "Então e como é que faz quando aparece um caso suspeito de Covid-19 à sua frente? Quais são os procedimentos?"

 

D: "Super fácil. Hoje em dia, no telejornais, nos jornais ou onde quer que seja, o que mais se vê é que indivíduo tal, ou fulano tal faleceu de Covid-19, certo?"

 

E: "Sim, infelizmente, sim... Parece que todas as outras doenças desapareceram..."

 

D: "Exacto. Então é diagnosticar tudo com Covid-19 automaticamente!"

 

E: "Oi?! Como assim? Dê-nos um exemplo?"

 

D: "Pois muito bem... Se me aparece um paciente com dor de cabeça, tau!, nem examino, é logo Covid-19. Unhas encravadas, fungos, micoses, ossos partidos, determinados objectos introduzidos em determinados sítios da anatomia humana — e que criaram vácuo e agora não querem sair por nada deste mundo... — tau!, o diagnóstico é logo Covid-19! Não tem nada que saber..."

 

E: "Ah... Percebemos... Bom, obrigado por este esclarecimento. Nós vamos andando..."

 

D: "Os meus amigos não estão lá com muito boa cara. Sentem-se bem?"

 

E: "Sim, sim... Estamos só um pouco aflitos para ir à casa-de-banho porque ontem estivemos num jantar de amigos e devorámos feijoada à transmontana como se o mundo fosse terminar no dia seguinte. Então a modos que..."

 

D: "ALTO! ISSO É COVID-19! SENHORA ENFERMEIRA, AJUDE AQUI. LEVEM JÁ ESTES DOIS MENINOS PARA O UCI! E TRAGAM-ME A MINHA MELHOR FACA PARA CORTAR LOMBO, QUE ESTES DOIS TEM DE SER OPERADOS IMEDIATAMENTE!"

 

E: "Já fomos..."

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RIC