Viva o 25 de Abril, mas não para Bernardino Carrapeto…
estapafurdiosdoquotidiano, 25.04.14
“VIVA O 25 DE ABRIL! VIVA A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS! VIVA OS CHAIMITES! VIVA OS OBREIROS DA REVOLUÇÃO CONTRA A DITADURA DO ESTADO NOVO! VIVA O “MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS”! VIVAAAAAA! URRRA! URRRA!”
Ora então cá estamos para mais um estapafúrdio. O quê, pensavam que só por ser feriado de 25 de Abril, não haveria estapafúrdio? Ah! Ah! Isso queriam vocês, verem-se livres de 3 minutos de leitura estapafúrdia! Era o que mais faltava! Não queriam mais nada, não! Vá, agora pouco barulho e tomai atenção ao estapafúrdio que se segue.
A revolução de 25 de Abril foi, para muita gente, o sinónimo de liberdade. O facto de o povo se ver livre da ditadura do Estado Novo – na altura, nas mãos de Marcelo Caetano –, foi o pináculo da existência. A independência daí adquirida, foi o equivalente a se poder voar, mas sem ter asas. Portanto, diz que foi bom… (Visto bem as coisas, “o equivalente a se poder voar, mas sem ter asas” é exactamente a mesma situação por que passa um toxicodependente, quando está pertíssimo de uma overdose…)
Mas existe uma pessoa que não está de acordo com a revolução de 25 de Abril. Chama-se Bernardino Carrapeto, e diz que tem uma história do camandro para nos contar…
RIC: Ora viva, caro Bernardino. Então, diga-me, senhor Bernardino Carrapeto: que história é que o senhor tem para nos contar…?
Bernardino: Olá. Sim, tenho uma história bastante triste. Ou melhor, diria até que se trata de uma história bastante trágica. Mas, atenção, que trata-se de uma história verídica. O que vou aqui contar, não se trata de ficção. É a mais pura das verdades!
RIC: Ah… Pronto, pronto… Então, por favor, conte-nos a história para ficarmos a conhecê-la…
Bernardino: Então…? Está com pressa para ir a algum lado? Se está, então pode ir à sua vidinha, sim?! Que eu cá não funciono sobre pressão. Eu não sou adepto das pressas… Nunca ouviu dizer que a pressa, por vezes, dá em vagar? Se não ouviu, olhe passou a ouvir agora. Era o que mais faltava agora surgir um pelintra qualquer a pressionar-me, para que eu conte a história que mudou a minha vida!
RIC: EH PÁ, CONTE LÁ O RAIO DA HISTÓRIA ANTES QUE EU PEGUE AQUI NESTE CRAVO, E O ENFIE NO SEU REAL ESFÍNCTER! E OLHE QUE ISTO É CAPAZ DE ARRANHAR UM POUCO!
Bernardino: Pronto, pronto… Tenha lá calma, ó fáchavôr! Eu passo já a contar a história… Até porque eu odeio cravos! E ser violado por um cravo, é a pior coisa que me poderia acontecer…
RIC: Então, meu caro amigo, é melhor despachar-se… porque este cravo que eu tenho em minha posse, é um gajo mau para caraças, e está desejoso por invadir-lhe o esfíncter…
Bernardino: Bom, a verdade é que eu fiquei órfão por causa do 25 de Abril.
RIC: Ah, os seus pais morrerem no dia da revolução?
Bernardino: Sim, quer dizer…. mais ou menos. O meu pai já tinha morrido antes do 25 de Abril. Foi atropelado pela “Viúva Negra”, quando atravessava a estrada para ir buscar a bola que eu tinha chutado… Estávamos a jogar à bola, e eu sempre tive dois pés esquerdos no que toca ao futebol… E prontos, a coisa deu-se… Enfim, é a vida… Agora a minha mãe é que faleceu no dia da revolução de 25 Abril…
RIC: Ai, sim? E então, como foi que a sua mãe faleceu?
Bernardino: A minha mãe… Desculpe… Deixe-me só… respirar um pouco… Isto é sempre difícil para mim… Bom, eu e a minha mãe tivemos a infelicidade de estar no local errado, à hora errada. Estávamos a passear na Ribeira da Naus, quando se deu o 25 de Abril.
RIC: Na Ribeira das Naus?! Na zona do Terreiro do Paço onde o Salgueiro Maia enfrentou o brigadeiro que surgiu na Ribeira das Naus com cinco carros de combate M/7 de Cavalaria 7, seguidos de atiradores do Regimento de Infantaria 1, da Amadora, e soldados da Polícia Militar de Lanceiros 2?
Bernardino: Eh lá, você percebe bastante do assunto, hem?! Também estava lá, quando isso aconteceu?
RIC: Nã, claro que não… Vi no Wikipédia… Bom, mas adiante, o que aconteceu para a sua mãe ter falecido nesse dia? Não me diga que foi um ataque de coração derivado do susto de ter presenciado toda aquela situação?
Bernardino: Nã, que estupidez. A minha mãe era uma pessoa forte, fazia bastante ginástica e nunca iria falecer de um ataque de coração. Ela tinha um coração de ferro! Era dura de roer!
RIC: Então…?
Bernardino: Ela morreu… Espere, deixe-me só respirar que isto é bastante doloroso para mim, recordar aquela morte trágica… Bom, ela morreu atropelada por um chaimite…
RIC: Eish! Atropelaram a sua mãe com um chaimite?! Porra, como é que isso foi acontecer?!
Bernardino: Bom, eu tinha uma bola… E a bola a modos que… prontos, foi parar à frente do chaimite… Diz que eu desatei a chorar porque o chaimite ia esmagar-me a bola… A minha mãe encheu-se de coragem e enquanto o Salgueiro Maia e o Brigadeiro estavam ali no vai não vai, dispara não dispara um com o outro, ela correu em direcção da bola… e… aconteceu… Foi atropelada por um chaimite, porque o seu condutor adormeceu ao volante… Bom, mas passado é passado. O que acha de uma partidinha de futebol? Eu tenho aqui a bola desse dia, e podíamos ir para a Ribeira das Naus recriar todo este episódio…? Hum? Alinha?
RIC: PORRRRRRRRAAAA! Esqueça lá isso que, com a sua habilidade para o futebol, ainda acabo morto atropelado por um skater…
RIC