Um serão bem passado no Panteão Nacional...
estapafurdiosdoquotidiano, 13.11.17
Olá, seres mai lindos deste universo. Como têm passado? Tudo em alta? Sempre firmes e hirtos que nem uma courgette fresca acabada de apanhar? Isso é que é preciso. Folgo em saber que continuam em grande forma física. Hoje temos uma estapafúrdio mais direccionado para os geeks, mas de igual interesse para os mais leigos ao que a tecnologia diz respeito. Portugal esteve em êxtase com o evento Web Summit. Não se falou de mais nada dos últimos dias, mas pelas piores razões, obviamente. Não estivéssemos nós em Portugal... A revolta da existência de um jantar no Panteão Nacional, deixou as pessoas revoltadas. Muito se tem falado. Muito se tem criticado, mas ainda ninguém teve a preocupação de saber qual foi a opinião de algumas das personagens residentes do Panteão Nacional. Ninguém, alto aí. O Estapafúrdios do Quotidiano teve... Ora vejamos...
RIC: Olá, Dona Amália. Como tem passado? Como vão esses ossos?
Amália: Olá, olá. Tenho passado muito bem. É pena é o frio que costuma estar no Panteão. Tenho sofrido horrores com dores nos ossos.
RIC: Ai, sim? Não fazia ideia. Pensei que até estivesse quentinho no Panteão. Vocês, mulheres, estão sempre a queixar-se de tudo. Do frio então, é coisa que até irrita...
Amália: Quentinho, o tanas. Se você fosse como eu, também se ia queixar.
RIC: Como assim? Se fosse mulher?
Amália: Não, criatura. Se só tivesse ossos, como eu. Sabe que isto de já não ter chicha à volta dos ossos provoca cá um transtorno no inverno que nem imagina...
RIC: Pois, é capaz de ser chato, sim... Bom, mas vamos lá a assuntos mais sérios. Conte lá, como foi receber a visita da maltinha do Web Summit aqui na sua residência oficial? Foi uma chatice do camandro, não foi?
Amália: Uma quê? Foi lá agora uma chatice. Foi um espectáculo! Há anos que não me divertia tanto como naquele jantar. Foi uma maravilha!
RIC: Ai, sim? Então? Eles não foram lá incomodar o seu descanso?
Amália: Por deus, não! Eu quero lá descanso! Eu sempre fui uma mulher de muita actividade. Eu quero é ajuntamentos. Quantos mais melhor!
RIC: Então o que se passou no jantar para estar assim tão animada?
Amália: Olhe, rapazito. Ao principio foi um pouco estranho. É que eu estava a dormir um pouco, mas fui acordada repentinamente com o cheiro nauseabundo de algo que parecia ser comer que azedou. Levantei-me e fui ter com essa malta para tentar saber o que estavam a comer. Afinal era sushi ou lá o que era aquilo. Esta rapaziada de hoje em dia só come é porcarias, e isso de comerem peixe cru até me deixa algo agoniada. Mas fui perguntar na mesma o que se passava ali. Eles ficaram muito assustados...
RIC: Pois, ter de repente ali uma mulher que eles não conheciam de lado nenhum a fazer perguntas sobre o jantar deve ser um pouco estranho.
Amália: O quê? Nada disso. Estranho foi eles verem-me em camisa de dormir. Ficaram aterrados, pois por baixo da roupa eu só tenho ossos. A chicha da boa que eu tinha há muito que desapareceu.
RIC: Ah... claro, claro... Então mas como é que se divertiu tanto com eles? Foi ao assustá-los?
Amália: Nada disso. Eles acabaram por se habituar rapidamente a mim. Pois como são rapaziada das tecnologias, pensaram que se tratava de um holograma. Olhe, rapaz, foi uma noite de arromba. Eles meteram lá as minhas músicas nos telemóveis deles a tocar e eu cantei para eles a noite toda. No final, ainda comemos umas rodelas de chouriço assado e bebemos uns valentes copos de vinho do Porto que foi um regalo. O meu amigo, por acaso, sabe quando é que eles estão de volta?
RIC: Não. Não faço a mais pequena ideia...
Amália: Oh, é pena... Tenho uns quantos amigos que iriam adorar ter passado o serão com eles, mas estavam a dormir e nem deram por nada. Sabe, é que eles, quando se enfiam naqueles túmulos, têm dias que não ouvem nada. Dormem o tempo todo que nem umas pedras... Cambada de velhadas, é o que é...
Mais tarde, achámos por bem ir ao encontro de outra personalidade que habita no Panteão...
RIC: Olá, Rei Eusébio. Como estão esses ossos?
Eusébio: Olá! Estão muito bem conservados. Por alguma razão eu passei os últimos anos da minha existência a beber álcool. E deu resultado, pois tenho os ossos bem conservados...
RIC: Ah, está giro... Bom, então conte lá: como foi ter de aturar aquela malta do Web Summit a jantar no Panteão? Uma canseira, com toda a certeza...
Eusébio: Canseira? Ui, se foi. Há anos que não me cansava tanto...
RIC: Pois, imagino. Deve ter sido cá uma barulheira...
Eusébio: Sim, as claques não paravam de apoiar...
RIC: Claques? Como assim?
Eusébio: Sim, as claques. De um lado estava a claque da malta do Web Summit. Do outro estava a nossa! A nossa era muito mais barulhenta...
RIC: Mas como assim?
Eusébio: Oh, amigo... Aquilo foi uma jogatana como há anos não participava numa. Fez-me lembrar os velhos tempos do Benfica e da Selecção Nacional. Fiquei de rastos, mas ganhámos 12-0!
RIC: Jogatana?!
Eusébio: Sim. Aquela malta parece um monte de totós, mas até sabe bem como se divertir. Desafiei-os para uma jogatana de futebol, e eles alinharam logo. Mas como são uma data de totós começaram logo a criar muitas táticas nos telemóveis e nessas coisas estranhas que chamam tablets, mas não serviu de nada. Levaram uma cabazada à maneira antiga!
RIC: Mas como é que conseguiram jogar ali? Alguém levou uma bola?
Eusébio: Muito simples. Pegámos em 4 fémures e espetámos no chão. Fizemos as balizas assim. Depois, pedimos um crânio emprestado a um amigo defunto meu, e jogámos. O que foi uma valente chatice porque num dos remates mais violentos que dei rachei o crânio ao rapaz... Agora estou feito. A ver se arranjo um pouco de cola para... Ah, o meu amigo não tem para aí um pouco de Super Cola 3?
RIC: Hum... não.
Eusébio: E vinho do Porto? A Amália bebeu tudo o que havia e não deixou nada para ninguém...
RIC: Também não...
Eusébio: Whisky?
RIC: Nop.
Eusébio: Medronho?
RIC: Nem por isso...
Eusébio: Porra, esta juventude de hoje em dia está perdida...
RIC: Eusébio, por acaso tenho aqui uma garrafa de água... Quer?
Eusébio: Deus me livre! Veneno?! Não obrigado... Isso só me ia fazer mal aos ossos...
RIC: Ok... Então adeusinho...
Eusébio: Adeus. A ver se da próxima que cá vier traz pelo menos uma garrafinha de amêndoa amarga, está bom?
RIC: Combinado...
Como se pode comprovar, parece que apenas os portugueses ficaram chocados com o jantar no Panteão Nacional. Para os próprios residentes lá do sítio foi uma noite bem passada...
Adeus e até à próxima...
RIC